Dor de cabeça

Por Leonardo Costa

Com diversas origens, tratada de forma corriqueira, a dor de cabeça é um sintoma que pode ter a sua causa camuflada pelo hábito do automedicamento.

Quando menos percebemos, lá está ela novamente, a dor de cabeça. Atormentando o nosso cotidiano e contribuindo para um mal estar que não nos ajuda em nada. Ela pode ser o sintoma das mais variadas doenças como gripe, estresse, sinusite e até casos neurológicos mais graves. Em sua maioria, as suas manifestações são tratadas de forma imediata, sem um diagnóstico apropriado, com a ingestão de algum remédio com a sua propriedade analgésica, anti-inflamatória ou até mesmo antitérmica.

Farmácia não é mercado
Uma ação corriqueira como automedicação é uma prática condenada por alguns especialistas e que precisa parar. Ela é definida na Política Nacional de Medicamentos (PNM) como o uso de medicamento sem a prescrição, orientação e ou o acompanhamento do médico ou dentista, “Migrânea (enxaqueca) não se trata com analgésicos”, alerta o neurologista, Dr. Eduardo Nascimento.

Para a Sociedade Brasileira de Clínica Médica (SBCM) as medidas utilizadas para a venda de antibióticos também deveriam ser aplicadas as outras classes de medicamentos de venda livre. No caso do anti-inflamatório, por exemplo, afirmam que a administração indiscriminada pode fazer mal ao coração, fígado, rins e estômago. “Todos têm indicações e posologias específicas, além do risco de provocarem efeitos colaterais e danos à saúde”, alerta o presidente da SBCM no artigo “Automedicação: os riscos de uma atitude irresponsável”.

A promoção do uso racional de medicamentos foi uma das ações reconhecidas, pelo Ministério da Saúde (MS), como necessárias para o bem estar da nossa população. Quando tomar algum remédio não receitado, lembre-se, se persistirem os sintomas o médico deverá ser consultado. E, deve mesmo. Pois o lembrete parece um pouco clichê, mas sempre necessário e verdadeiro em sua essência.

A substância ativa dos remédios irá funcionar. Diminuir e até mesmo fazer desaparecer o sintoma de dor, mas apenas de forma paliativa. Não são indicados para a enxaqueca. O uso contínuo de analgésicos pode agravar o quadro da enxaqueca e ainda causar o efeito rebote. “Algumas pessoas tem dor de cabeça diária e a principal causa é o uso abusivo de remédios”, alerta o neurologista. A informação sempre será o melhor remédio.

Diagnosticar é preciso
A cefaleia ou dor de cabeça, como é popularmente conhecida, é um sintoma de dor na região craniana, que pode ser uma ocorrência benigna isolada, como também a manifestação de uma ampla variedade de transtornos. A International Headache Society (IHS) classifica as cefaleias em primárias, caracterizadas pela ausência de anormalidades e por não serem decorrentes de doenças específicas de origem intracraniana ou sistêmicas, como na categoria das secundárias.

No primeiro grupo são atribuídas a enxaqueca, a dor de cabeça tipo tensão ou as cefaleias autonômicas do trigêmeno muscular. Já no segundo grupo de classificação são atribuídos os traumas ou doenças na cabeça ou no pescoço, os distúrbios vasculares craniano ou cervical, a presença ou ausência de substâncias, as infecções, os distúrbios psiquiátricos ou a qualquer outro distúrbio relacionado a estrutura craniana ou facial como olhos, nariz, sinusites, dentes, boca e etc.

Nossa! Complicou? Não se assuste. Este panorama sobre a classificação das dores de cabeça foi apenas para reforçar a importância que devemos dar ao diagnóstico das nossas dores recorrentes. É aconselhado procurar um clínico geral ou neurologista para que seja feita uma análise clínica para o diagnóstico correto da cefaleia e a escolha do tratamento adequado. Mas, por enquanto, nesta matéria, vamos esclarecer um pouco sobre a enxaqueca.

“Algumas pessoas tem dor de cabeça diária e a principal causa é o uso abusivo de remédios” – Dr. Eduardo Nascimento (Neurologista)

Cefaleia ou Enxaqueca
A cefaleia é apontada como a segunda queixa mais comum de dor, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). A enxaqueca é reconhecida como uma doença incapacitante e está em quarto lugar no ranking mundial, acometendo em torno de 15% da população mundial. Segundo o portal “enxaqueca crônica”, no Brasil, aproximadamente 30 milhões de pessoas manifestaram a doença.

Mas, quais são os critérios para identificarmos a enxaqueca? “É comum o paciente confundir enxaqueca com dor de cabeça. A enxaqueca é uma doença, onde o sintoma principal é a dor de cabeça”, explica o neurologista. O sintoma mais comum é a dor de cabeça unilateral, latejante e pulsátil, com uma intensidade classificada entre moderada e severa. Episódica ou crônica, a migrânea pode se manifestar ainda com ou sem aura, distúrbios neurológicos que afetam a visão (pontos luminosos ou diminuição do campo visual) e a área motora do paciente (dormência).

A dor pode ser aumentada com a prática de atividades físicas ou esforço. Se você tem mais de dois destes sintomas e ainda manifesta náusea, vômito, fotofobia e/ou fonofobia, pode haver uma grande chance de ser enxaqueca. Geralmente, o tempo de duração de uma migrânea, sem tratamento, pode durar de 4 a 72 horas. “Com medicação, as dores podem durar até duas horas, tendo um alívio mais rápido”, explica o neurologista.

Porém, para diagnosticar uma enxaqueca crônica é preciso levar em consideração a frequência, o tempo de duração e a intensidade das crises. Por exemplo, ter uma crise de cefaleia por pelo menos 15 dias/mês, por três meses, sendo que durante oito dias no mês as dores precisam preencher os critérios de caracterização da enxaqueca. Por se tratar de uma doença crônica, ela não tem cura, mas pode ser tratada e controlada.

Gatilhos
As alterações químicas que acontecem no cérebro, que originam o quadro de enxaqueca, são provocadas por gatilhos físicos e psicológicos que podem ser identificados e evitados. Dentre eles estão: falta de rotina para o sono; ingestão de alguns alimentos (chocolate, vinho); jejum por longos períodos; uso de medicamentos vasodilatadores; exposição a ruídos altos e odores fortes; mudanças súbitas da pressão atmosférica e temperaturas; atividades intensas ou prolongadas.

Nas mulheres
O estresse e as variações de níveis hormonais também são considerados como gatilhos e podem afetar ainda mais as mulheres, comparadas aos homens. Um estudo feito em 228 adolescentes do sexo feminino, matriculadas em uma escola pública do município de Petrolina, Pernambuco, argumentou que “a migrânea predomina no sexo feminino e apresenta intensidade moderada à grave, podendo levar à incapacidade funcional”.

O estudo verificou a predominância elevada de cefaleia em mais de 80% das estudantes voluntárias. Deste total, 61,4% associaram pelo menos um sintoma como fotofobia, fonofobia e náuseas, caracterizando a enxaqueca. Mesmo os pesquisadores chamando a atenção para que os resultados não sejam generalizados, devido a restrição geográfica do estudo, é uma realidade que precisa ser levada em consideração.

Outra pesquisa, feita por representantes da Universidade Federal da Grande Dourados e da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, analisou a relação entre a enxaqueca em mulheres e o estresse. Mais da metade (55%) das mulheres apresentaram algum tipo de enxaqueca e algum nível de estresse (69%). Além de reforçar a prevalência da doença no gênero feminino, constatou-se também que o estresse pode aumentar em até cinco vezes a possibilidade das mulheres desenvolverem enxaqueca.

Algumas mulheres também podem desenvolver a migrânea menstrual. Geralmente, ela tem a característica da migrânea sem aura. O neurologista, Dr. Eduardo Nascimento, ressalta a importância do diagnóstico, uma vez que o tratamento é completamente diferenciado dos demais tipos de enxaqueca. Sendo administrados entre quatro e cinco dias, os medicamentos são especificamente para o tratamento da dor, naquele período específico.

Tratamentos
Diante deste panorama, podemos concluir que a enxaqueca pode ser considerada um fator poderoso de interferência nas atividades diária de vida, como trabalho, estudo, lazer e até mesmo na vida sexual. Porém, nem tudo está perdido, pois existem duas formas de tratamento: a profilaxia (prevenção) e o controle da dor (durante as crises).

Segundo a SBCM, hoje temos disponíveis medicações, fitoterápicos, neuroestimulador periférico, bloqueio anestésicos, acupuntura, toxina botulínica e etc. Todos viabilizam um planejamento terapêutico de acordo com o perfil de cada paciente. Sendo ainda, recomendado um tratamento realizado de maneira multidisciplinar, para além do neurologista, podendo incluir odontólogo, nutricionista, psicólogo e fisioterapeuta.

Um instrumento que poderá ajudar e muito no controle da migrânea é a elaboração de um diário, onde deve ser anotado as atividades. Deve-se descrever o que comeu, a quantidade de horas dormidas, além de inserir informações sobre as crises. A análise irá contribuir para identificação dos gatilhos, o auxílio no diagnóstico e aplicação do tratamento.

Muitos são os remédios e todas são as possibilidades, mas apenas o tratamento adequado é o caminho correto. Antes de cultivar o hábito da automedicação, procure um médico. Ele irá investigar a causa, orientar para o melhor tratamento e garantir a sua qualidade de vida, cuidando da sua saúde.

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