Ansiedade

Por Leonardo Costa

Um olhar para o futuro, que na dosagem certa nos ajuda em um desenvolvimento saudável, sem fobias e transtornos.

A ansiedade é algo que faz parte da realidade de todas as pessoas. Considerada pelo senso comum como uma vilã, ela é essencial para o desenvolvimento do ser, em relação aos seus anseios, desejos e metas. É o que nos movimenta. Uma preocupação saudável com o futuro que nos impulsiona a planejar, identificar possíveis problemas e suas alternativas de solução para o alcance do sucesso. Uma ansiedade vital é muito mais que bem vinda. Mas e quando ultrapassamos esse limite?

Ao ultrapassar o nível saudável de ansiedade, podemos desenvolver doenças crônicas como síndrome do pânico, fobias e transtorno obsessivo compulsivo (TOC). Assim como a depressão está para o relacionamento exacerbado do ser com o passado, as fobias estão para o relacionamento com o futuro, através da ansiedade.

A construção do Eu saudável, desde o nosso nascimento é de suma importância para determinar qual será o nosso papel na vida, além do tom da interação do ser na sociedade. Podemos ter uma relação saudável, impositiva, opressora ou construtiva. As experiências cotidianas e o seu registro é feito de forma espontânea e natural, inconscientemente. Não conseguimos nos dar conta de quando este momento de registro acontece.

Em contato com os pais e familiares, as crianças não absorvem somente as orientações que lhes são dadas. O Eu é formado com o armazenamento espontâneo de autofluxo das impressões que registramos observando as ações, os comportamentos e as expressões das personalidades de quem as cerca. “Um Eu saudável e inteligente pauta sua agenda social pela flexibilidade, pela capacidade de expor seus pensamentos, nunca impô-los”, afirma o psiquiatra Augusto Cury em seu livro “Ansiedade como Enfrentar o Mal do Século”.

Quando ansiedade se torna vilã
O ser humano está em constante fluxo de pensamentos, em cadeias contínuas e inevitáveis, criando um estado de ansiedade vital. Segundo o psiquiatra Augusto Cury, em sua publicação, esta ansiedade é considerada saudável, pois nos impulsiona no processo de construção do nosso psiquismo como: pensamentos, ideias, personagens, ambientes, desejos e aspirações. Isto contribui de forma saudável para o desenvolvimento de cada pessoa.

A ansiedade se torna prejudicial quando ela reduz o prazer de viver, a criatividade, a generosidade, a afetividade, a capacidade de pensar antes de reagir, a habilidade de se reinventar, e o raciocínio multifuncional. A hiperconstrução de pensamentos é considerada como um dos mecanismos psíquicos responsáveis em transformar a ansiedade vital em asfixiante.

Como tudo em nossa vida, o que é demais se torna prejudicial. Esta lógica não poderia ser diferente com os pensamentos. Pessoas com uma mente agitada podem ir além dos limites considerados saudáveis da movimentação psíquica, desenvolvendo a síndrome do pensamento acelerado (SPA). Em uma sociedade impactada pelo desenvolvimento tecnológico, acessibilidade a informação e interatividade nas redes sociais digitais, encontramos um quadro favorável ao aumento do fluxo de pensamentos.

A SPA pode causar também o comprometimento da criatividade, do desempenho intelectual global, deterioração das relações sociais e dificuldade de trabalhar em equipe e cooperar socialmente. Uma pessoa com a síndrome não vai conseguir desenvolver uma cadeia de pensamentos em uma direção lógica e coerente. Deixando para o inconsciente esta função. O primeiro fenômeno inconsciente para a construção de pensamentos é o gatilho da memória.

O gatilho da memória pode ser acionado por estímulos como luz, sons, sabores, cheiros, imagens mentais, fantasias, emoções, desejos ou até mesmo substâncias metabólicas ou drogas psicoativas. Ele atua em milésimos de segundo, sem que tenhamos uma percepção consciente de sua operacionalidade. “É ele quem abre as janelas da memória, ativando a interpretação imediata e a consciência instantânea”, afirma o escritor Augusto Cury em seu livro.

As primeiras impressões e interpretações dos milhares de estímulos que recebemos podem ser percebidas de forma consciente, mas tem a sua origem em manifestações inconscientes. Se os gatilhos de memórias fossem conscientes, não conseguiríamos as respostas de reconhecimento a tempo e não seríamos considerados e reconhecidos como a espécie pensante de hoje. Os gatilhos acessam as janelas da memória para os armazéns de informações.

De onde vêm as fobias
Todas as informações que registramos são agrupadas por assuntos e esses assuntos são acessados pelas janelas da memória. Existem três tipos de janelas da memória: neutras, light e killer. As janelas neutras, responsáveis por guardar conteúdo não emocional como números, endereço e informações profissionais, representam 90% de toda a área da memória. As janelas light (luz/iluminação) estão relacionadas ao conteúdo de prazer, serenidade, generosidade, tranquilidade, coerência e ponderação, ou seja, exemplos saudáveis.

Já os exemplos traumáticos, com conteúdo emocional angustiante, fóbico, tenso, depressivo e compulsivo correspondem às janelas conhecidas como killer (assassino). São as janelas responsáveis pela síndrome do circuito fechado. Quando os gatilhos de memória direcionam o acesso a estas janelas, se produz uma tensão tão forte que o acesso às outras milhares de janelas neutras e light, detentoras de informações positivas e saudáveis, são abandonados.

São identificados alguns subtipos de janelas killer como as janelas do mau humor, ciúme, raiva, pessimismo, impulsividade, alienação, fobias, excesso de autoconfiança e dependência. Por mais simples que seja o objeto de gatilho da memória, quando acessada uma janela killer perde-se a capacidade de controle e resposta lógica, caracterizando a síndrome do circuito fechado. A base da síndrome do circuito fechado está relacionada às agressões domésticas, bullying, conflitos profissionais, suicídio, guerras ou qualquer outra forma de violência.

Logo, começamos a entender a dinâmica do pânico em uma pessoa que não consegue efetuar um ato tão simples como ter contato com algum animal, estar em uma condução lotada ou entrar em um elevador. Segundo especialistas, existem vários tipos de ansiedade como a pós-traumática, o transtorno obsessivo compulsivo (TOC), a síndrome de burnot e o transtorno do pânico. Mas, se tratando da ansiedade produzida pela síndrome do pensamento acelerado, o seu impacto se torna ainda mais abrangente e contínuo.

Déficit de memória sinal de alerta
Várias pessoas sofrem com esquecimentos. Porém, o déficit de memória é uma estratégia do cérebro para diminuir o ritmo acelerado dos pensamentos. Quando corriqueiro, ele é algo positivo, sendo considerado apenas como um alerta. Mas quando isso compromete o cotidiano, abduzindo o nome de amigos, endereços ou informações importantes, como a senha do banco, é preciso ter um pouco mais de atenção.

O cérebro é mais prudente que o Eu. Ao perceber o ritmo acelerado, o esgotamento e a incapacidade de gerenciar os pensamentos, ele aciona mecanismos instintivos de segurança. Isto prejudica a capacidade do ser humano em assimilar, organizar e resgatar as informações no campo das memórias. O cérebro bloqueia o acesso a determinados arquivos de informação na tentativa de diminuir o excesso de pensamentos.

Alinhado ao estresse, pode-se considerar que uma pessoa pode gastar muito mais energia do que qualquer trabalhador em atividades braçais. Profissionais com atividades intelectuais, como advogados, juízes, cientistas, jornalistas e outros estão inseridos em um ambiente propicio ao desenvolvimento da SPA, pelo excesso da necessidade em obter informações.

Diminuir o ritmo é preciso
Desde a infância, recebemos um excesso de estímulos através de brinquedos, atividades, propagandas, smartphones, videogames, TV e a própria escola. Em uma sociedade estressante e agitada, o uso excessivo de celulares, atividades, informação e trabalho ocasiona um desgaste cerebral muito grande. Precisamos nos vincular a atividades prazerosas que possibilitem a diminuição do ritmo.

É preciso desenvolver uma autoconsciência, para que consigamos ser o autor da própria história, promovendo emoções saudáveis e criativas. Para isso, alguns profissionais como psicólogos, psicoterapeutas e psiquiatras estão disponíveis para auxiliar neste desenvolvimento. Liberar o imaginário pode ser uma alternativa positiva que libera o lado inovador e ousado para novas ideias.

Reveja as suas crenças, faça uma higiene mental com a técnica DCD (duvidar, criticar e decidir). Um exercício de autoconhecimento que pode aliviar a velocidade dos pensamentos e reeditar as janelas traumáticas em acessos positivos e construtivos. Reciclando os pensamentos autopunitivos, autocobranças excessivas e preocupações asfixiantes. Indo contra a corrente do circuito fechado, em uma estrada racional. Precisamos desenvolver a consciência de que o pior inimigo está dentro de nós mesmos e por esta razão, sempre existirá a luz no final do túnel.

DICAS PARA CONTROLAR A ANSIEDADE
Pratique atividades físicas

Praticar atividades físicas é a forma mais comum de controlar a ansiedade. Ela eleva a produção de serotonina, substância que aumenta a sensação de prazer. Escolha a que mais lhe agradar.

Meditar
Da Yoga ao tai chichuan, a meditação é uma prática que pode ajudar. É provavelmente um dos melhores exercícios para aprender como controlar a ansiedade e o estresse.

Tente se distrair
Leia um livro, quadrinhos ou alguma coisa que faça rir um pouco. O riso ajuda a reduzir o hormônio do estresse e cortisol.

Faça atividade voluntária
Colaborar para o bem-estar de outras pessoas ajuda a distrair das suas próprias preocupações.

Valorize o seu sono
Falta de sono é uma das principais causas de estresse entre as pessoas. Administre seu tempo e durma pelo menos 8h por noite. Dormir bem e com todas as luzes apagadas é considerado o remédio mais eficaz para controlar a ansiedade e o estresse.

Exercícios de respiração e relaxamento
No momento em que começar a sentir-se ansioso, experimente fechar os olhos, respirar fundo e esvaziar os pensamentos. Mantenha a mente limpa, sem pensar em nada do seu cotidiano.

Alongamento
Faça alongamentos de 15 minutos. A atividade relaxa a tensão muscular, um dos fatores que colaboram para quadros de ansiedade.

Converse com um amigo
Conversar com alguém que você gosta e confia, ajuda a distrair e reduzir a ansiedade.

Defina prioridades e organize-se
Não tente fazer tudo ao mesmo tempo. Faça uma lista de prioridades compatível com sua capacidade de execução. Muitos casos de ansiedade surgem em indivíduos que estabelecem metas além do que podem cumprir.

Tire férias
Aproveite o descanso de forma prazerosa e saudável. Faça atividades recreativas com os filhos, esposa, familiares, amigos ou conheça novos lugares.

Foque no presente
Quando estiver ansioso concentre-se unicamente no momento em que está vivendo.

Pensamentos positivos
Evite situações e lugares que remetam a pensamentos negativos ou autodestrutivos. Resignifique esses lugares, criando memórias positivas.

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