Dança Charme | Step by step
Por Leonardo Costa
Muito mais do que os passinhos sociais, a Dança Charme retorna ao cotidiano carioca com novas possibilidades.
Quem não se lembra dos famosos passinhos sociais da década de 80, que cativou uma geração inteira durante a “hora do charminho”, nos bailes? Hoje, capaz de misturar gerações, o novo movimento da Dança Charme resgata o estilo charmeiro de ser. Tipicamente carioca, a celebração da cultura suburbana é ampliada com as novas possibilidades da dança, que embala.
Hoje, disponibilizada no Benefício Coletivo de Danças, a Dança Charme surge como um segmento que leva o estilo “charmeiro” de ser para as salas de aula, trazendo vantagens para a nossa saúde física e mental. Ótima para as famílias que curtem dançar e se divertir. “A dança Charme faz bem à saúde e socializa todas as idades”, afirma o professor de dança e coreógrafo, Marcus Azevedo.
A essência
O charme é considerado como uma manifestação cultural tipicamente carioca. Surgiu na década de 80 e foi personalizado pelos passinhos sociais, que eram dançados em grupo com gestos bem sensuais. Criado no Rio de Janeiro, a sua caracterização foi estabelecida nos famosos Bailes Charmes que eram feitos em quadras de escolas de samba, clubes, ruas e viadutos. Como é ainda até hoje, no famoso Baile do Viaduto de Madureira, na Zona Norte do Rio de Janeiro.
A invenção do Charme como gênero musical é atribuída, pelo professor Marcus Azevedo, ao DJ Corello com a célebre “hora do charminho”, no saudoso baile no Mackenzie, bairro do Méier. Nos bailes da época, a musicalidade do charme era representada por artistas como Steve Wonder, Barry White, Janet Jackson, Toni Braxton, Marvin Gaye, Baby Face e outros. Uma vertente da Black Music para o Rhythm and Blues (R&B) contemporâneo.
Em sua pesquisa “Cultura Charme”, o professor Marcus Azevedo, identifica os quatro elementos do Charme: a música, a dança, a vestimenta e o comportamento. Unificados, enraízam a cultura suburbana, que em sua maioria é representada por negros e negras, expressa um estilo peculiar e sofisticado. Democrática e integralizadora, a Dança Charme chega nos dias atuais mixando gerações e classes sociais nos espaços de dança.
Charmeiros e Charmosas
Os charmeiros construíram uma identidade própria. No surgimento do movimento charme, a vestimenta e o comportamento tinham um desenho peculiar. Os figurinos que compunham a moda daquele momento eram inspirados na capa dos discos. Os adeptos do charme se vestiam para se igualar aos seus ídolos. Independentemente da estação do ano, os homens usavam terno de linho, sapatos de bico fino e bicolores, complementando a elegância do estilo com os chapéus-panamá.
Já as mulheres, como de costume em nossa sociedade, podemos considerar que estavam em um desfile de moda. Roupa, acessórios, sapatos e o cabelo, que ainda é considerado até hoje como uma identidade própria. Dificilmente encontraríamos um penteado igual ao outro. Sempre com um detalhe fazendo a diferença. Claro que o poder aquisitivo ajudava muito nestas ocasiões, mas não era um impedimento para uma deslumbrante apresentação no baile.
Nos dias atuais, com a influência sofrida pela explosão do Hip Hop e o surgimento de novos ícones, os looks também sofreram algumas intervenções. Sem perder o seu charme e estilo, os frequentadores dos bailes não se sentem mais na obrigação de seguir à risca os padrões estabelecidos pelos novos ídolos. Hoje, “diríamos que o guarda-roupa se tropicalizou”, afirma o professor e coreógrafo Marcus Azevedo.
Os passinhos
O momento dos passinhos é reconhecido como algo muito positivo nos bailes. Eles são responsáveis pelo auge da integração e socialização dos frequentadores dos bailes. Quem não gostava de chegar ao baile, onde a socialização era limitada aos grupinhos de amigos isolados, e aproveitar a hora do charminho com os passinhos sociais para se aproximar de alguém ou fazer parte daquela onda de movimentos animados. Você consegue imaginar toda a pista de dança fazendo o mesmo passo, seguindo o repertório do DJ?
Para quem tem dificuldades em aprender os passinhos ou quer aprimorar os movimentos que já estão memorizados, as aulas coletivas de dança já estão recebendo a Dança Charme como mais uma opção. Ela resgata a tradição do movimento charmeiro carioca com profissionalização, técnica e novas experiências. “Hoje, você não precisa ir ao Baile para poder dançar Charme”, lembra o professor Marcus Azevedo.
Grupo de dança “Originais do Charme”, formado por charmeiros da antiga, sob a direção de Marcus Azevedo; Equipe da Dança Charme & CIA; Eu Amo Baile Charme, no Shopping Jardim Guadalupe.
“A dança Charme faz bem à saúde e socializa todas as idades” Marcus Azevedo (professor de dança e coreógrafo)
Vamos dançar?
Sabemos que não é nenhuma novidade que a dança está presente desde os primórdios da humanidade. No início, a expressão corporal era a única forma de se comunicar, antes de uma forma estruturada verbal. Hoje, a dança é muito mais do que apenas uma forma de expressão. É algo cultural que pode nos trazer muitos benefícios para um bom desenvolvimento humano.
Sabe aquela frase popular, “quem dança seus males espanta”? Então, ela é muito mais abrangente do que um grupo de simples movimentos. Dentre os benefícios psicológicos podemos destacar as habilidades múltiplas que a dança proporciona: coordenação, equilíbrio e ritmo. Outro ponto positivo das aulas coreografadas da Dança charme é o desenvolvimento da nossa cognição.
A dança ainda ajuda a nos expressarmos melhor, aprimorando a nossa comunicação. A coreografia nos permite uma apropriação mais consciente do corpo, aperfeiçoando o gestual, que pode ser usado constantemente na comunicação verbal. Com uma comunicação mais integrada, conseguimos nos expressar melhor. Com o outro nos entendemos melhor, crescemos no convívio familiar, profissional e comunitário.
Não é a toa que a coreografia da Dança Charme ganhou o nome “passinho social”, nos bailes charme. A dança é uma ótima oportunidade de socialização e ainda é considerada como um elemento relevante para o fortalecimento da autoestima. Além de nos ajudar a perceber e respeitar a diferença do outro, no tempo de resposta ao passo e expressão corporal. Qualquer um pode dançar, não há limites para expressar os seus sentimentos pelos movimentos.
Dançar é entregar o corpo ao sentimento da alma, que desenha nos movimentos as suas mais profundas sensações. Algo que começa com a preocupação do acerto dos passos e termina com a sensação deliciosa de pertencimento e satisfação pessoal. Se permita novas experiências. Quebre os seus medos e enfrente novos desafios. Venha dançar com a gente.
Onde Dançar
Baile dos Associados ASSIST. Semestralmente a ASSIST prepara o Baile Beneficente dos Associados. E claro, com um animado aulão de Dança Charme na sua programação, tanto para os alunos que já praticam poderem se divertir, quanto para os associados que adoram dançar, interagir e descontrair.
Eu Amo Baile Charme
Acontece bimestralmente, no segundo domingo de cada mês, gratuitamente no Shopping Jardim Guadalupe. Um baile que mistura gerações, onde os jovens e a turma da antiga podem se divertir e curtir os embalos do Charme atual e de raiz. O Baile é organizado por Marcus Azevedo, coreógrafo e Joel Filho, idealizador e produtor cultural. Facebook: eabcrj
Viaduto de Madureira
Embaixo do Viaduto Negrão de Lima se transformou em referência da cultura black carioca. Lá, acontece semanalmente o Baile Charme de Madureira que traz uma programação animadíssima, de experiência inigualável. Facebook:@bailecharmedemadureira
Se você gostou e ainda tem curiosidade para entender melhor esta dança, que poderá contribuir ainda mais para sua qualidade de vida, o professor Marcus Azevedo criou um canal no youtube (Marcus Azevedo) com algumas coreografias e apresentações e uma página no facebook (Maarcus Azevedo) para ajudar a divulgar a agenda do movimento charme.
Charmear (v.t.)
É quando a alma usa o corpo de instrumento musical. É se entregar ao vento e ao ritmo. É se sentir levado por algo maior que a gente. É uma levada boa, que expressa, que acalma. É desabafar sem dizer nada. É estar entregue e entregar o próprio controle. É ser controlado por outras notas de outra vida. “É não tentar explicar, é se libertar, é não estar só, é dançar.” (Marcus Azevedo)
Top 10 do Charme
1. Mc Lyte – Cravin
2. Brian McKnight – Used To Be My Girl
3. Sara Dezorzi – Guarde Seus Beijos
4. Bruno Mars – That’s what a Like
5. Michael Jackson – Rock With You
6. Patrícia Marx – Cedo ou Tarde
7. Fat Family – Eu Não Vou
8. Bruno Mars – Finesse
9. Tony Braxton – Another Sad Love Song
10. Ney Yo – So Sick
*Fonte: Professor Marcus Azevedo