Vacinar pra quê?

Por Leonardo Costa

A disponibilidade de informação na internet às vezes contribuiu para desinformação, prejudicando algumas campanhas de vacinação e contribuindo para o retorno de algumas doenças.

Tomar ou não tomar, eis a questão! Com opiniões divididas, entre especialistas e cidadãos, influenciados por uma ideologia de vida e até mesmo fake news em alguns casos, as vacinas vão deixando de se tornar prioridade na vida das pessoas e podem contribuir para o retorno de algumas doenças como sarampo, coqueluche, meningite por hib, rubéola, poliomielite e difteria.

Segundo Organização Mundial de Saúde (OMS), “cerca de 20 milhões de crianças em todo o mundo não estão com a vacinação em dia, apesar de os programas de imunização constarem na lista das mais bem-sucedidas e custo-efetivas ações em saúde pública.”

A percepção brasileira sobre as vacinas ainda é positiva, mas um pouco contraditória. Ao analisar o estudo Wellcome Global Monitor 2018, realizado em 140 países, a Sociedade Brasileira de Imunização (SBIM) diz que apesar das quedas nas coberturas vacinais, 97% dos brasileiros concordam ou concordam fortemente que é importante vacinar as crianças.

A OMS garante que a imunização é um dos investimentos com melhor custo-efetividade para as nações. Estima-se que cerca de 2 a 3 milhões de mortes sejam evitadas pela vacinação anualmente. Graficamente, é comprovado que quanto maior a cobertura vacinal, menor é a circulação de vírus e bactérias entre a população.

Como funciona
É conhecido que as vacinas nos protegem de diversas doenças caudas por vírus e bactérias, mas muitas pessoas ainda não entendem como elas funcionam. As vacinas estimulam o nosso sistema imunológico para a produção de anticorpos (tipo de proteína). Eles são os agentes de defesa que irão lutar contra os micróbios que causam as doenças infecciosas.

A base da vacina é construída pela forma enfraquecida do vírus ou totalmente inativa do agente que causa a doença. O nosso organismo irá reagir, produzindo anticorpos, gerando uma memória imunológica. Caso algum dia, tenhamos contato com o vírus ou bactéria, os anticorpos produzidos a partir da vacina irão destruí-los.

Reações adversas
Além dos antígenos (atenuados ou inativos), as vacinas também podem conter quantidades pequenas de outros produtos químicos e biológicos. Algumas pessoas podem ter algum histórico alérgico a estes componentes utilizados na composição das vacinas, precisando consultar um especialista antes da vacinação.

Raramente, as vacinas que utilizam antígenos atenuados podem causar algum tipo de sintoma e quando ocorrem são brandos e de curta duração no vacinado. São condições semelhantes a doenças que estão sendo prevenidas. Isto está relacionado diretamente ao organismo do vacinado e o seu sistema imunológico.

Memória imunológica
O sistema imunológico precisa de tempo para criar a sua memória de defesa, ou seja, às vezes não conseguimos produzir anticorpos no tempo suficiente para combater o desenvolvimento do agente agressor. E as vacinas surgem como uma estratégia importante de imunização preventiva, que elimina o risco de ficarmos doentes e chegarmos as complicações fatais.

Segundo a cartilha da SBIM, “Imunização – Tudo o que você sempre quis saber”, a maioria das vacinas protegem cerca de 90% a 100% das pessoas. Alguns fatores como o organismo da pessoa vacinada (alergia e imunidade) e o tipo de vacina estão relacionados ao percentual de não proteção.

Diversidade nas opiniões
Marilene (41) não teve uma boa experiência com a vacinação contra a gripe, “nossa! Tive várias reações como febre e dor no corpo, mas apesar das reações continuo a favor da vacinação e tomaria novamente”, conta. Já a mãe do Miguel (8), apesar de ficar preocupada, acompanhando as notícias sobre o impacto de algumas vacinas das atuais campanhas, ela acredita na imunização e sempre acompanha o seu filho nas vacinas, quando disponíveis para adultos.

Vacinar desde cedo?
Segundo os especialistas, as crianças são mais suscetíveis às doenças, pois as suas defesas imunológicas ainda não estão bem formadas. Quanto mais cedo imunizadas, mais protegidas elas estarão. As vacinas são reconhecidas como o recurso que mais contribuiu para a diminuição da mortalidade infantil, caiu 77% no Brasil em 22 anos, de acordo com a SBIM.

O Ministério da Saúde recomenda que, a partir do dia 22/08/2019, todas as crianças de 6 a 12 meses em todos os estados brasileiros, sejam vacinadas com a tríplice viral visto ue houve um grande aumento no número de casos de sarampo não só em São Paulo, mas em outros estados do Brasil.

A Dra. Thais Bustamante Pediatra e Neonatologista da Sociedade Brasileira de Pediatria explica que esta dose, chamada de “dose zero” ou “dose extra” não será contabilizada na carteirinha de vacinação como a primeira. “Aos 12 meses e aos 15 meses a criança deverá tomar as duas doses já previstas pelo Programa Nacional de Imunização.” Completa a especialista.

Segundo o Ministério da Saúde, a vacinação é preventiva e deve alcançar 1,4 milhão de crianças, que não receberam a dose extra (dose zero), além das previstas no Calendário Nacional de Vacinação, aos 12 e 15 meses. A pediatra explica que existe uma grande preocupação com essa faixa etária, já que em surtos anteriores foram as crianças menores de um ano que evoluíram para casos mais graves e óbitos.

Adultos e idosos
O destino das vacinas não é apenas para a imunização de crianças e adolescentes, adultos e idosos também precisam se proteger. Atualmente, são seis perfis identificados que precisam se vacinar, sendo: prematuro, criança, adolescente, mulher, homem e idoso. Cada um com o seu grupo específico de imunização e observações. A SBIM disponibiliza dois calendários 2019/2020: Do nascimento aos 19 anos e dos 20 anos à terceira idade.

Onde se vacinar
Nas Unidades Básicas de Saúde, nos Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais (Cries) ou nas clínicas privadas de vacinação. As clínicas privadas surgem para atender uma demanda que não consegue ser atendida no Programa Nacional de Imunizações. Já os Cries são destinados ao atendimento de pessoas que não estão no perfil do atendimento das Unidades Básicas de Saúde como portadores de doenças crônicas; imunodeficientes e os que convivem com elas; pessoas com exposição a agentes infecciosos; ou quem precise substituir as vacinas por terem apresentado hipersensibilidade ou eventos adversos graves. Também atende de forma personalizada o público que necessita de produtos especiais, de alta tecnologia e alto custo.

Fake News
Infelizmente, nem todas as informações disponíveis na internet são confiáveis. Existem muitos materiais que confundem e iludem a população com informações enganosas. Por isso a SBIM indica priorizar a busca em sites de órgãos oficiais. Ao consultar mais de uma fonte, identifique se o conteúdo oferece referências oficiais e em casos polêmicos, aprofunde o conhecimento dos argumentos de todas as partes envolvidas, buscando identificar os possíveis conflitos de interesses.

Já imaginou o que poderia acontecer se todos parassem de tomar vacinas? Os surtos de diversas doenças, os gastos com tratamentos  internações, além das possíveis mortes que ocorreriam. A prevenção sempre será o melhor caminho e a saúde e bem-estar da sua família devem ser prioridade. E então, vacinar pra quê?

Lista de doenças imunopreveníveis
*disponíveis nas Unidades Básicas de Saúde

• Catapora
• Caxumba*
• Coqueluche (pertussis)*
• Dengue
• Difteria*
• Doença meningocócica (DM)*
• Doença pneumocócica (DP)
• Febre Amarela*
• Febre tifoide
• Gripe (influenza)*
• Haemophilus influenzae
• Tipo B (Hib)*
• Hepatite A*
• Hepatite B*
• Herpes zoster
• HPV*
• Poliomielite*
• Raiva*
• Rotavírus*
• Rubéola*
• Sarampo*
• Tétano*
• Tuberculose (TB)*

Calendários de vacinação 2019-2020 Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

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