Saúde Bucal
Por Verônica Berni
Meus pés não tocam mais o chão Meus olhos não vêm a minha direção Da minha boca saem coisas sem sentido Você era o meu farol e hoje estou perdido
Da boca partem o sorriso, o beijo, parte da respiração e início do processo digestivo. A boca ou cavidade bucal, como é conhecida pelos especialistas, é composta por estruturas distintas com muitas funções, que nos ajudam em nosso desenvolvimento. Desde o nascimento, cumpre papel importante na vida, pois está diretamente relacionada à alimentação, estética, fala e papel sensorial fundamental nas relações humanas. Cuidar bem desta estrutura é fundamental para prevenção de doenças como a cárie, que com uma ação simples pode ser evitada.
A boca e sua estrutura
A boca tem uma composição complexa, porém de simples integração, onde cada parte tem a sua função. Ela é composta pelos lábios (pregas musculares revestidas por mucosa com coloração avermelhada devido à grande vascularização), língua (estrutura muscular com papilas), palato duro – o famoso “céu da boca”, palato mole onde fica a úvula ou “campainha”, mucosa jugal, dentes e gengivas.
Com coloração rosada e textura firme, as gengivas circundam os dentes que estão fixos por osso alveolar e ligamentos periodontais. Ao redor, temos a mucosa jugal, comumente conhecida como bochecha, contornando os dentes superiores e inferiores. O tamanho das bochechas varia de pessoa para pessoa, impactando na intensidade de expressão do sorriso de cada um.
Claro que não poderíamos nos esquecer dos dentes, que além de compor o nosso sorriso cada grupo exerce uma função específica na alimentação: os incisivos cortam; os caninos perfuram; os pré-molares e molares trituram os alimentos misturando-os com a saliva, que contém enzimas, formando o bolo alimentar que vai ser engolido, dando início ao processo digestivo. A conservação dos dentes é primordial para garantir uma boa mastigação e saúde bucal.
Suas principais doenças e a cárie
Conhecemos diversas doenças relacionadas à boca, mas a principais são: aftas e herpes simples, nos lábios; cistos de retenção de saliva, na língua; cistos, no “céu da boca”; aftas e candidíase, na mucosa jugal (bochechas); doença periodontal, nas gengivas e cárie, nos dentes. Em menor número, o câncer bucal que está associado ao tabagismo, ingestão excessiva de álcool e próteses mal adaptadas.
De acordo com a pesquisa nacional de saúde bucal, feita em 2010 pelo Ministério da Saúde, a cárie dentária continua sendo o principal problema de saúde bucal, que ocasiona dor, no Brasil. A dor de dente é a razão número um de absenteísmo escolar e o número médio de dentes acometidos por cárie é de 2,1, com variações por região. Nos adultos, as necessidades de próteses ficam em torno de 52%.
A cárie é uma doença infectocontagiosa de desenvolvimento simples, decorrente da combinação de três fatores individuais: micro-organismos cariogênicos (Streptococcus mutans) presentes na boca, substratos cariogênicos (alimentos açucarados) e dentes. Esses fatores interagem num determinado período de tempo, levando a um desequilíbrio e processo de desmineralização entre a superfície dentária e a placa bacteriana (biofilme).
Existem vários tipos de cárie. A oclusal, quando a infecção está na parte de trituração dos dentes; a proximal, quando afeta a parede lateral do dente e a radicular quando acomete a raiz exposta do dente, comprometendo toda a base estrutural do dente. É importante lembrarmos que vários fatores predispõem risco à cárie: alimentos açucarados como bolos, sorvetes, refrigerantes, sobremesas, pão doce, iogurte, café, chás e sucos, cereais açucarados, achocolatados, biscoitos, doces em geral, ou seja, todo tipo de alimento que contenha açúcar refinado pode provocar cáries.
A frequência com que alimentos açucarados são consumidos favorece a formação de cáries. Porém, consumir pouca quantidade de açúcar com frequência é mais arriscado que consumir grandes quantidades de uma só vez. O mais importante é manter a escovação depois da ingestão de qualquer alimento.
Na prevenção das cáries, não adianta escovar os dentes sem usar técnica adequada, deixando restos de alimentos e placa bacteriana. Não podemos dispensar o uso de fio ou fita dental, pois auxiliam na remoção de restos alimentares entre os dentes ou utilizar escovas duras que em vez de remover a placa bacteriana, ferem a gengiva que fica sensível e irritada.
“Na prevenção das cáries, não adianta escovar os dentes sem usar técnica adequada, deixando restos de alimentos e placa bacteriana.”
O desenvolvimento da cárie
A cárie atinge inicialmente o esmalte dental e se inicia como uma mancha branca. Ainda no estágio inicial, ela não causa dor e o seu quadro pode ser revertido com o método de micro abrasão e remineralização do esmalte. Com seu avanço, vai atingindo estruturas mais profundas como a dentina, onde já haverá formação de cavitação, e pode ou não haver dor. Ainda nesta fase, a cárie pode ser removida e o dente restaurado sem maiores comprometimentos.
Em estágio mais avançado, atinge o canal (nervo) onde a condição é dolorosa, podendo ter formação de abscesso ocasionado pela infecção dos canais. Este estágio é extremamente doloroso e muitas vezes é necessária, além do tratamento do canal, a prescrição de analgésicos e antibióticos para combater a dor e a infecção do dente. Após o tratamento do canal, a restauração do dente envolve um custo mais elevado para o paciente. Mas, a não restauração torna o dente frágil e quebradiço, ou seja, sujeito à fratura.
Problemas dentários podem afetar outras partes do corpo, por isso a importância da prevenção, controle e cuidados com higiene para evitar que infecções bucais possam ter repercussão sistêmica gerando situações graves e de difícil tratamento, afetando a saúde como um todo.
Dependendo do avanço, o grau de destruição da cárie é tão grande que o dente não pode ser mais restaurado e a indicação é de extração do dente. A perda de um dente pode provocar a mudança de posição de outros dentes. Para evitar este deslocamento e resgatar a função mastigatória naquela região, os espaços formados com as perdas devem ser preenchidos por próteses. Existem vários materiais utilizados para a confecção das próteses e deve ser escolhido de acordo com a orientação do dentista.
Mas, os danos da perda dentária vão além da função mastigatória. Dependendo da localização, como a parte anterior da boca, esta perda causa desconforto sob ponto de vista emocional. A pessoa sem dentes anteriores (localizados na frente de canino a canino) têm problemas de autoestima, que afetam o seu bem-estar. Principalmente as pessoas que lidam diretamente com o público em suas funções diárias.
Prevenção é a melhor solução
Ingerir líquidos e alimentos que contenham flúor também ajudam a prevenir o desenvolvimento de cáries. É muito importante utilizar a técnica de escovação correta, com movimentos circulares e de varredura, em todas as partes dos dentes. Não é preciso uma grande quantidade de creme dental. As cerdas da escova devem ser macias e a cabeça pequena, para que possa alcançar todos os lados dos dentes. Além do fio ou fita dental.
Peça orientação ao seu dentista sobre as técnicas de escovação e uso correto do fio dental a serem empregadas, bem como se haverá necessidade de complementação da higiene com uso de enxaguatórios bucais, com ou sem flúor, dependendo da condição dentária e faixa etária.
A cárie é uma doença 100% evitável. O custo é baixo e as medidas são simples. São indicadas visitas semestrais ao dentista ou quando reparar alguma alteração nos dentes. Mas lembre-se que atitudes simples como o baixo consumo de açúcar, a ingestão de água e alimentos ricos em flúor, como peixes e frutas cítricas, podem garantir o seu bem-estar e saúde bucal permanentes.
A boca tem muitas responsabilidades, mas a principal, mais bela e contagiante expressão é o sorriso. E ele acontece nas mais diversas situações. Podemos sorrir sozinhos ou com alguém, sem o menor motivo aparente, basta ter vontade. Dizem que o sorriso é a manifestação dos lábios, quando os olhos encontram o que o coração está procurando. Sorria e contagie o mundo com a sua alegria.
Dicas para uma saúde bucal
1. Escove os dentes após as principais refeições
2. Use escova com cerdas macias, cabeça pequena e pontas arredondadas para não ferir a gengiva
3. Use sempre o fio dental em cada escovação
4. Escove a língua
5. Troque em média a escova dental, de três em três meses
6. Visite o dentista periodicamente
7. Não compartilhe a escova de dente
8. Evite o consumo excessivo de doces
9. Não fume
10. Evite hábitos como morder lápis, abrir garrafas ou cortar objetos com os dentes