Uva | A pequena notável
Por Christine Keller
Presente nas mitologias e matéria prima de uma das bebidas mais degustadas no mundo, a uva tem muitos benefícios e pode ser consumida de diversas maneiras.
Quem busca uma vida saudável e equilibrada deve ter como um dos pilares a alimentação diversificada e balanceada, mas sempre com muito sabor. Frutas são fundamentais em qualquer dieta salutar. Uma das preferidas, mais acessíveis, e que traz inúmeros benefícios à saúde é a uva. Ela pode ser consumida in natura, em doces, compotas, geleias, acompanhamentos de pratos salgados, chás, uvas passas, sucos e como uma das bebidas mais apreciadas, o vinho.
A princípio, a uva não apresenta restrições, desde que seja consumida de forma equilibrada, sem exageros. E é indicada para todas as idades.
Agradável e Benigna
A uva, fruto da videira ou parreira, agrada aos mais diversos paladares. Pode ser doce, cítrica ou ácida. O sabor varia de acordo com o tipo de solo onde foi produzida e a espécie. Existem aproximadamente mais de dez mil gêneros diferentes de uva no mundo todo. Destas, cerca de pouco mais de 60% são destinadas à produção de vinho.
A fruta é uma importante fonte de carboidratos, que fornece energia ao corpo e também é rica em cálcio, ferro, magnésio, potássio e fósforo. É pouco calórica, apresentando cerca de 70 calorias por 100 gramas. Além disso, são encontradas algumas vitaminas (E, C, D, K e A e também do Complexo B). Roxas ou verdes são uma excelente pedida e agregam inúmeras vantagens.
Outras substâncias importantes encontradas na uva são os antioxidantes, existentes especialmente na casca da fruta, sendo as mais escuras que têm maior concentração destes. Os antioxidantes são responsáveis pela “limpeza” dos radicais livres nas células.
Como e por que consumir?
Embora seja mais difundido o uso em algumas datas comemorativas, a ingestão diária traz inúmeros benefícios como o controle da pressão arterial, redução do colesterol ruim, fortalecimento das artérias, prevenção de problemas cardíacos e do câncer, diminuição na formação de coágulos sanguíneos e precaução contra a trombose, equilíbrio da glicose no sangue, melhora da saúde da visão e do sistema digestivo (a uva é rica em fibras e água, ajudando na constipação intestinal, atuando como um laxante suave), ativação dos rins, evitando retenção de líquidos, melhora o funcionamento do fígado, e ainda atua como um anti-inflamatório natural, por conta da presença da quercetina.
Para o consumo diário, in natura, as mais apreciadas são as “uvas de mesa”, facilmente encontradas em feiras livres, supermercados e hortifrutis. Seu sabor é mais adocicado. No Brasil, as espécies mais conhecidas são a Rubi, Itália, Moscatel, Isabel, Niágara Rosada, Niágara Branca, Red Globe, Thompson, Crimson e Benitaka, entre outras.
A ingestão in natura é a mais indicada para obter todos os benefícios da fruta. Podem ser ingeridas a polpa, a casca e as sementes. O ideal é um cacho médio de uvas frescas por dia, cerca de 120 gramas. Antes de comer, é adequado fazer uma boa higienização da fruta, lavando bem para não ter riscos de contaminação por bactérias e outros.
Prefira as cultivadas de forma orgânica. Caso não seja possível, uma forma de minimizar os agrotóxicos é deixar a fruta mergulhada em uma solução de 10 gramas de Bicabornato de Sódio em um litro de água potável por meia hora. Depois disso, lavar em água corrente.
Outras formas de consumo
Embora a uva in natura preserve todas as propriedades, nada impede que ela seja degustada de outras formas como doces, geleias, compotas, gelatinas, bolos, tortas, acompanhamentos de pratos salgados e sucos. Todas apresentam um toque especial que agrada a diversos paladares.
Ainda pouco difundido é o uso do chá de folhas de parreira. Segundo pesquisas, melhora a circulação, alivia sintoma de varizes, atenua a sensação de inchaço, de peso e cansaço das pernas. Isso devido à presença nas folhas de flavonoides, resveratrol, taninos e outras substâncias que atuam como anti-hemorrágicos, adstringentes, cicatrizantes, antissépticos e anti-inflamatórios. É usado para minimizar os efeitos da menopausa. Compressas do chá também são utilizadas para dor de cabeça e o bochecho com o chá para aftas e gengivites.
Uma curiosidade. Segundo a farmacêutica Rosilane Moreth de Souza, em seu trabalho de conclusão de graduação (2012), as antocianinas extraídas das cascas de uvas têm sido usadas como corantes alimentares desde 1880.
Vinho, um capítulo à parte
Uma das bebidas mais apreciadas é o vinho. Na mitologia romana é associado a Baco, versão romana do deus grego, Dionísio. Antes dos romanos e gregos, no Egito quem estaria ligado à bebida é Osiris. É obtido basicamente através da fermentação da uva, passando por processos diversos de fabricação, filtragem e armazenamento. Entre as espécies viníferas para a produção de vinhos estão mais de cinco mil, dentre elas Cabernet Sauvignon, Malbec, Merlot, Carmenère, Pinot Noir, Syrah, Chardonnay, Sauvignon Blanc e Riesling.
Os vinhos variam de acordo com o tipo de uvas utilizadas, os processos de produção e armazenamento, e podem apresentar aroma, cor, graduação alcoólica e textura diferentes. Dentre os tipos podemos destacar os tintos, proveniente de uvas pretas, sendo a espécie mais consumida em nosso país. As frutas mais conhecidas para a produção deste vinho são a Cabernet Sauvignon (também usada na produção de vinhos brancos) e a Merlot. Os Brancos apresentam um sabor frutado e aos poucos conquistam o gosto dos brasileiros. A Chardonnay é uma das uvas usadas na produção dos vinhos brancos e espumantes. Existem outras como a Sauvignon Blanc (mais seco) e a Riesling, entre outras.
Os vinhos Rosés são muito apreciados e provenientes de uvas tintas com tons variados. Uma das mais usadas em sua produção é a Cabernet Sauvignon. Os espumantes são muito populares e obtidos por diversas técnicas. Espumantes e Champagne, a princípio, seriam a mesma bebida. A diferença é que para levar o nome de Champagne, por uma questão de legislação local, apenas as produzidas na região de mesmo nome, na França, podem usar essa denominação e devem ser feitas exclusivamente com uvas do tipo Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier.
Há ainda os vinhos Doces. O licoroso apresenta um alto teor alcóolico e deve ser consumido com moderação. Aliás, como qualquer bebida alcóolica. Entre os maiores produtores mundiais de vinho estão a França, Itália, Espanha, Estados Unidos, Argentina, Austrália, Alemanha, África do Sul, Chile e Portugal. Segundo a International Organisation of Vine and Wine (OIV), o Brasil ocupa a 14ª posição no ranking mundial.
Mas, a uva é para todos?
A princípio, a uva não apresenta restrições, desde que seja consumida de forma equilibrada, sem exageros. E é indicada para todas as idades. Mas, pessoas que fazem dieta por motivos de saúde, como por exemplo, diabéticos, entre outras doenças, ou ainda que tenham alguma restrição ou intolerância à uva e seus produtos, devem sempre ter um acompanhamento de seu médico e de um nutricionista. Natasha Costa Nazareth, nutricionista da Assist, recomenda que:
“É necessário um atendimento individualizado para cada tipo de patologia. Alimentos são usados, principalmente, para evitar doenças, como prevenção e melhorar a qualidade de vida.”
Quem tem diabetes, por exemplo, depende da taxa de glicose no sangue, sendo recomendado sempre o acompanhamento médico personalizado. Não há unanimidade quando se trata de doenças. Cada caso deve ser analisado individualmente e o consumo e quantidade, indicado ou não. O mesmo ocorre para dietas de emagrecimento. Para gestantes, a princípio, não há restrições. Mas, cada organismo tem suas especificidades e necessidades nutricionais e o profissional irá sugerir o que for melhor, de acordo com o quadro, idade, estilo de vida, etc.
Vinhos devem ser consumidos com moderação e sempre se levando em consideração a dieta de cada indivíduo e o teor alcóolico da bebida. Em relação aos sucos, também pode haver alguma restrição por conta da quantidade de açúcar. Caso haja a intolerância, é possível trocar por sucos de frutas vermelhas, que tem propriedades semelhantes à da uva, seguindo a orientação médica.
Quem tem Pet deve ter cuidado. Não é aconselhada para cães e gatos a ingestão de uva e derivados. Segundo Rogéria de Souza Faria, especialista em Acupuntura e Homeopatia Veterinária, “a uva em grande quantidade é tóxica para eles por ter tanino, causando diarreia e hiperatividade.” No caso dos gatos, ela pode ser muito perigosa se ingerida em grande quantidade, podendo provocar lesão renal aguda e levar o animal a óbito.
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Origem e história da Uva
São muitas as histórias do surgimento da Uva. O mais provável é que tenha se originado no sudoeste da Ásia, no Neolítico, entre seis mil e oito mil anos, a partir de uma espécie ancestral selvagem V. vinifera spp. Sylvestris, na região que abrange a costa atlântica da Europa e o Himalaia. Há relatos também que essa domesticação no formato que hoje conhecemos tenha ocorrido na Itália. Nenhum estudo é conclusivo, mesmo sendo baseado em testes de DNA, devido a possíveis cruzamentos que possam ter ocorrido durante milênios.
No Egito e Vale do Jordão, as videiras foram comercializadas há cerda de cinco mil anos e se espalharam por toda a Bacia do Mediterrâneo nas Idades do Bronze e do Clássico, com o cruzamento da espécie doméstica e as selvagens. Na China, teria chegado no 2º Século A.C. com o retorno do general Qian Zhang a Bacia de Fergana e sido levada para Chang’an através da Rota da Seda. Estudos Arqueológicos, porém, indicam que as primeiras uvas teriam sido cultivadas na Bacia de Turpan (Atual Oeste da China).
Relatos apontam que os Celtas já produziam vinho 400 A.C. A fundação de Marselha, na França, está relacionada ao cultivo de uvas. Mas, um estudo publicado recentemente pela revista norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences, indica que a origem do vinho na França seria italiana. Os estudiosos sugerem que há provas químicas, que fortalecem essa afirmação, além das análises feitas antigos objetos de produção de vinho na França, indicando que teria chegado através dos etruscos (ex-habitantes da Toscana, Úmbria e Lácio).
No Brasil, as primeiras videiras teriam sido trazidas pela expedição colonizadora de Martim Afonso de Souza, em 1532, para a região da Capitania de São Vicente (Litoral de São Paulo) e segundo relatos, Brás Cubas, fundador da cidade de Santos, teria sido o primeiro a cultivar em nosso país.